31 de mar. de 2010

O Retrato de Dorian Gray - Oscar Wilde



E por falar em desconstrução...

O livro de Oscar Wilde é fascinante e intrigante. Quando comecei a lê-lo não consegui mais parar, como se houvesse algo que me atraísse para a história, que me fizesse sentir da mesma forma que o personagem Dorian. É impossível ser a mesma pessoa depois de ler este livro. Ele modifica completamente visões de mundo e faz com que o leitor duvide de suas próprias convicções e princípios e ponha em questão uma série de preceitos morais e éticos.
Leitura obrigatória.

Recomendo, para quem tiver preguiça de ler o livro, o filme homônimo feito em 1945, que foi bastante fiel à história. A versão produzida em 2009 ficou extremamente sensacionalista e fugiu completamente da lógica do livro na minha opinião. Por isso, não a recomendo.

O link para download do filme de 1945 é esse: http://filmeedownload.blogspot.com/2009/05/o-retrato-de-dorian-gray-1945.html

Pode-se também baixar o livro em: http://www.reidoebook.com/2009/08/o-retrato-de-dorian-gray-oscar-wilde.html



As melhores partes do livro pra mim...



A coisa mais banal adquire encanto simplesmente quando não revelada.

A naturalidade não é mais do que uma pose, a pose mais irritante que conheço.

A consciência e a covardia são de fato a mesma coisa. A consciência é a marca comercial da firma. Mais nada.

Eu estabeleço uma norma para diferenciar bem as pessoas. Escolho os amigos pela beleza, os conhecidos pelas qualidades de caráter, e os inimigos pelas de inteligência. Todo o cuidado é pouco na escolha dos inimigos. Não tenho um único que seja estúpido. São todos homens de capacidade intelectual e, por conseguinte, todos me apreciam. Será isto vaidade?

Os que são fiéis conhecem apenas o lado trivial do amor, os infiéis são precisamente aqueles que conhecem o seu lado trágico.

Porque exercer a nossa influência sobre alguém é darmos a própria alma. Esse alguém deixa de pensar com os pensamentos que Lhe são inerentes, ou de se inflamar com as suas próprias paixões. As suas virtudes não lhe são reais. Os seus pecados - se é que os pecados existem - são emprestados. Tal pessoa passa a ser o eco da música de outrem, o ator de um papel que não foi escrito para si. O objetivo da vida é o nosso desenvolvimento pessoal. Compreender perfeitamente a nossa natureza - é para isso que estamos cá neste mundo.

Somos punidos pelas nossas rejeições. Todo o impulso que esforçadamente asfixiamos fica a fermentar no nosso espírito, e envenena-nos. O corpo peca uma vez, e mais não precisa, pois a ação é um processo de purificação. E nada fica, a não ser a lembrança de um prazer, ou o luxo de um pesar. Ceder a uma tentação é a única maneira de nos libertarmos dela. Se lhe resistimos, a alma enlanguesce, adoece com as saudades de tudo o que a si mesma proíbe, e de desejo por tudo o que as suas leis monstruosas converteram em monstruosidade e ilegalidade.

A única diferença entre um capricho e uma paixão para toda a vida é que o capricho dura um pouco mais.

Atualmente, as pessoas sabem o preço de tudo e não sabem o valor de coisa nenhuma.

Meu caro rapaz, pessoas frívolas são aquelas que amam só uma vez na vida. Àquilo a que chamam lealdade e fidelidade, chamo eu letargia do hábito ou falta de imaginação. A fidelidade está para a vida emocional como a coerência está para a vida do intelecto, quer dizer, uma simples confissão de fracassos. A fidelidade! Preciso de a analisar um dia destes. Existe nela a paixão pela posse. Há muitas coisas que atiraríamos fora se não receássemos que os outros as pudessem apanhar.

Havia venenos tão sutis que para conhecer as suas propriedades era preciso adoecer, experimentando-os. Havia doenças tão invulgares que tinha que se passar por elas para se compreender a sua natureza. E, porém, a recompensa recebida era enorme! Como o mundo se tornava maravilhoso aos nossos olhos! Observar a lógica rigorosa e singular da paixão e a vida colorida e emocional do intelecto, atentar nos pontos em que se encontravam e se separavam, no ponto de concórdia e no de discórdia... que prazer havia em tudo isso! Não importava o custo que havia que pagar! Nunca era demasiado elevado o preço de qualquer sensação.
Estar apaixonado é ir para além de si mesmo.

Gostamos de pensar tão bem dos outros porque temos medo de nós mesmos. A base do otimismo é simplesmente o terror. Consideramo-nos generosos porque atribuímos ao nosso semelhante o mérito de possuir aquelas virtudes que poderão vir a beneficiar-nos.

Ser bom é estar de harmonia consigo mesmo. O conflito é ser obrigado a estar de harmonia com os outros.

Existem apenas dois tipos de pessoas que são realmente fascinantes: as que sabem absolutamente tudo e as que não sabem absolutamente nada.

Que importância tem o verdadeiro lapso de tempo? Só as pessoas fúteis precisam de anos para se libertarem de qualquer emoção. Um homem que seja senhor de si consegue pôr fim a uma tristeza com a mesma facilidade com que inventa um prazer. Não quero ficar à mercê das minhas emoções. Quero usá-las, desfrutá-las e dominá-las.

Além disso, cada vez que se ama é a única vez que já se amou. A diferença no objeto do amor não altera a integridade da paixão. Só lhe dá mais intensidade. Na melhor das hipóteses, podemos ter na vida apenas uma experiência magnífica, e o segredo da vida está em reproduzir essa experiência tantas vezes quanto possível.

A vida não é regida pela vontade ou pela intenção. A vida é uma questão de nervos, e fibras, e células que se formam lentamente, e onde o pensamento se oculta e a paixão constrói os seus sonhos. Você pode imaginar-se seguro, e considerar-se forte. Mas a tonalidade ocasional de um quarto ou de um céu matutino, um certo perfume de que um dia gostou e que traz consigo subtis recordações, um verso de um poema esquecido que reencontrou, a cadência de uma música que deixou de tocar... são essas as coisas de que dependem as nossas vidas.

Um comentário:

Jessica disse...

esse livro é sensacional!
"um retrato da dor, um rosto sem coração."