6 de jun. de 2014

Loucura é fundamental - Por Livia Leal

Prefiro ser louca a ser cínica. Ouso optar por continuar me espantando com o que está ao avesso, com o que rouba os nossos sonhos e é capaz de tirar o brilho do nosso olhar. Arrisco a me rebelar contra a palavra que julga, contra o gesto que oprime, contra o medo que cala e contra a conformação irresponsável. Quando se vive em um mundo em que se culpabiliza a vítima e se absolve o ladrão, corre-se o risco de naturalizar o sofrimento e de legitimar a própria violência. Então, acabamos nos tornando cínicos, viramos expectadores da dor, e, ainda que com boa dose de empatia, normalizamos o que nos desumaniza. E aí o sonho se torna sinônimo de ingenuidade, o espanto se transforma em covardia, e o sentimento passa a representar fraqueza. Em um mundo em que os dons são negligenciados e as virtudes são ridicularizadas, ficamos sujeitos ao “tanto faz”, ao “é só mais um”, enfim, à indiferença. Tem faltado imaginação, espontaneidade, e tem sobrado receio e calculismo. Tornou-se normal ter o dinheiro como única motivação, calar frente a um ato de injustiça, terceirizar a responsabilidade pela construção de um mundo mais fraterno. 

Se for assim, que me perdoem os cínicos, mas loucura é fundamental.

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