26 de set. de 2014

Não merecer - Autor desconhecido



Contam que uma bela princesa estava procurando um marido. Aristocratas e endinheirados senhores tinham chegado de todos os lugares para oferecer maravilhosos presentes. Jóias, terras, exércitos e tronos estavam entre os agrados para conquistar uma criatura tão especial. Entre os candidatos, se encontrava um jovem plebeu que não tinha mais riquezas do que amor e perseverança. Quando chegou o momento de falar, ele disse: “Princesa, eu a amei toda minha vida. Como sou um homem pobre e não tenho tesouros para lhe dar, ofereço meu sacrifício como prova de amor. Ficarei cem dias sentados sob a sua janela, sem mais alimento do que a água da chuva e sem mais roupas do que as que visto agora. Esse é meu dote”. A princesa comovida por tal gesto de amor, decidiu aceitar: “Você terá a oportunidade; se passar na prova, me desposará”. 

Assim passaram-se as horas e os dias. O pretendente ficou sentado, suportando o vento, a neve e as noites geladas. Sem pestanejar, com os olhos fixos no balcão da amada, o valente vassalo seguiu firme em seu intento, sem desanimar por nenhum momento. De vez em quando, a cortina da janela real deixava transparecer a esbelta figura da princesa, que, com um gesto nobre e um sorriso, aprovava a empreitada.

Tudo ia às mil maravilhas, inclusive alguns otimistas haviam começado a planejar os festejos. Quando chegou o 99° dia, os camponeses da redondeza haviam saído para incentivar o próximo monarca. Tudo era alegria e folguedo até que, de repente, quando faltava uma hora para o prazo terminar, frente ao olhar atônito do público e à perplexidade da infanta, o jovem se levantou e, sem dar explicação alguma, se afastou lentamente do lugar.

 Algumas semanas depois, enquanto perambulava por uma estrada isolada, um garoto do povoado o alcançou e perguntou à queima-roupa: “O que aconteceu? Você estava a um passo de vencer o desafio, por que perdeu essa oportunidade, por que se retirou?” Muito consternado e com algumas lágrimas mal disfarçadas, respondeu em voz baixa: “Ela não me poupou de nem um dia de sofrimento, sequer de uma hora… Não merecia o meu amor”.