24 de dez. de 2010

Papai Noel, sem querer. - Por Livia Leal



Um sujeito simplório resolveu fazer uma surpresa para duas crianças da família na noite de Natal. Pegou a roupa vermelha, o cinto preto, colocou a barba de algodão e rapidamente pôs o gorro vermelho. Subiu no telhado, para que a surpresa fosse maior, mas algo inexplicável aconteceu. Sem ter reparado antes, ouviu gritos chamando “Papai Noel, Papai Noel” e, olhando para o lado, ainda no telhado, percebeu que na vila vizinha várias crianças o haviam visto e chamavam seus pais e mães para que olhassem que o Papai Noel havia chegado e que se encontrava em cima daquele telhado. O que seria um ritual tradicional de família na noite de Natal – de alguém se vestir de Papai Noel e entregar os presentes – acabou transcendendo e se tornando uma surpresa para o próprio sujeito, que de repente se viu em um papel que lhe fora subitamente atribuído; um papel inevitável. A responsabilidade que as inúmeras crianças da vila depuseram sobre aquele homem era mais pesada que qualquer saco lotado de presentes: ele deixava de ser apenas um homem em cima do telhado para se tornar O Papai Noel.


Tenho certeza que, naquele instante, o Papai Noel recém nomeado foi tocado pelo espírito do Natal. Não somente ele, mas todas aquelas crianças, ansiosas pela chegada do bom velhinho e pelos presentes que viriam a ganhar; todas as mães, que também foram surpreendidas pela cena; e todos que puderam presenciar esse fenômeno que é o Natal: a crença de que um mundo melhor é possível e que as esperanças sempre serão renovadas, de um jeito ou de outro.



Esse ano o bom velhinho deu um presente ao meu pai. Algo bastante similar ao que John Coffey deu a Paul Edgecomb em À Espera de um Milagre. Todos carregamos responsabilidades, mas poucos sabem o peso de ter o papel de renovar esperanças. Nosso presente, esse ano, foi perceber que muitas vezes, direcionados a um propósito bom, somos surpreendidos pelos milagres da vida. E, fazendo de nós algo maior do que realmente somos, esses mistérios do acaso têm o poder de nos rejuvenescer de alma, de acreditar que realmente podemos ser esse algo maior, e que devemos (por que não?) sê-lo.

Um comentário:

disse...

Lindo, cunhada! Fiquei sabendo que seu papai foi noel ontem =)